terça-feira, 4 de setembro de 2012

Aos iniciantes




Entrevista com a orquidófila Luiza Rossi



JO - Há quanto tempo tem o hobby de orquídeas e quais as dificuldades encontradas no cultivo aqui em Montes Claros?

LR - Este hobby iniciou em 1997 quando ganhei da minha sogra uma orquídea e que adaptou muito bem numa das árvores em minha chácara. Porém ao adquirir outras espécies e híbridos comecei com certas dificuldades. Iniciei um estudo em revistas especializadas, mas as dicas dadas não surtiam os efeitos esperados aqui na nossa região, com isso, algumas morriam e outras não floresciam. Foi conversando com orquidófilos de várias regiões do país que observei as particularidades de se cultivar orquídeas com relação ao clima, umidade do ar, regas, etc. Perdi alguns Paphiopedillum, dei de presente meus Cymbidium para pessoas que moravam em locais onde o inverno é mais definido, para que pudessem florescer, pois são orquídeas que não se adaptam muito bem em nossa região.
Procurei outras pessoas daqui de Montes Claros que gostavam de orquídeas. E assim formamos um pequeno grupo para trocar experiências e em 2001 fundamos a Sociedade Orquidófila Norte Mineira – SONM.

JO - Quais cuidados diferentes se devem ter com as orquídeas aqui no Norte de Minas?

LR - Quanto à luminosidade, as revistas diziam (e algumas ainda dizem) que se deve dar preferência a locais onde receba apenas o sol da manhã, protegendo do sol do meio-dia. Mas, em nossa região o sol depois das nove horas também é muito quente, podendo queimar as folhas.  É necessário bastante luminosidade para florescer, mas sem sol direto. Poucas são aquelas que gostam de ficar em pleno sol. Esse excesso de luminosidade no Norte de Minas podem deixar as folhas amareladas.
Quanto à rega, a recomendação que liamos era molhar a planta uma vez por semana. Porém, se agirmos dessa forma, as nossas orquídeas irão desidratar, pois a umidade relativa do ar da região norte-mineira é muito baixa. Recomendamos regá-la sempre que perceber que o substrato (material onde ela está plantada) estiver seco. Ou então, borrifar as folhas e substrato diariamente.
Mas, mesmo regando um pouco mais, é bom lembrar que é mais fácil matar uma orquídea por excesso de água do que pela falta. Excesso de água faz com que elas apodreçam.
Lemos ser bom regar com água da chuva, e realmente é a ideal. Infelizmente esta é escassa para nós. Outro problema é a nossa água calcária que, além de deixar um aspecto feio nas folhas (uma crosta esbranquiçada), bloqueia a absorção de nutrientes, por ser muito alcalina, com pH em torno de 8, sendo o ideal abaixo de 7. Sugerimos, então, colocar ácido fosfórico, limão ou vinagre na água para baixar este pH.  Mas, estamos verificando, ainda, qual a melhor dosagem.

JO - Você havia me dito que muitos iniciantes no cultivo de orquídeas cometem alguns erros. Quais são eles?

LR - Vemos com frequência que as pessoas ao comprar uma orquídea florida gostam de passá-la para um vaso maior. Isto é um erro. Primeiro, não se deve transplantar uma orquídeas com flor. Se, por alguma razão, necessitar mudar de vaso deve fazê-lo por volta de trinta dias após caírem as flores. Segundo, as orquídeas não gostam de vaso grande; uma planta pequena em vaso grande é condená-la à morte, devido ao desgaste para emitir suas raízes e preencher todo o espaço.
Um erro comum é plantá-la em terra. É bom saber que a maioria das orquídeas é epífita, portanto, não deve ser plantadas em terra. O melhor substrato é o xaxim desfibrado, porém sua comercialização está proibida devido à extinção da Dicksonia sellowiana, planta da qual se extrai o xaxim. Estamos fazendo estudos para verificar qual seu melhor substituto.  Podemos utilizar vários substratos, mas não a terra. Há aqueles que estão plantando apenas em brita, outros em coxim, em casca de açaí, em chip de coco, etc.  Alguns orquidófilos da SONM estão plantando somente em casca de coco macaúba tratada. No nosso orquidário (Rossi & Barbosa) estamos utilizando uma mistura de chip de coco com casca de coco macaúba tratada e que tem dado bons resultados.
Mais um erro: molhar ou adubar em horário de sol. Os raios solares incidindo na gota d’água aumentam seu potencial de irradiação podendo queimar e cozinhar as folhas da planta, aumentando o risco de doenças. O ideal é regá-la bem no início da manhã ou no final da tarde. À noite, também não é bom, pois ela não deve dormir com os “pés” (raízes) molhados.

JO - Para terminar, poderia dizer algo mais àqueles que acabaram de adquiri uma orquídea?

LR - Gosto muito de uma frase da Delfina de Araújo do site Brazilian orchids:

"Se, apesar destas instruções, mesmo morando em lugar de clima quente, você quiser comprar uma Sophronitis coccinea ou Cymbidium por causa de sua beleza ou, morando em clima frio, quiser comprar um vaso de Phalaenopsis ou Vanda teres, nem tente fazê-las florir novamente, dê para alguém que more em lugar frio ou quente conforme o caso ou, na pior das hipóteses, jogue fora quando acabar a floração e compre outra."

Cymbidium
Paphiopedilum
Luiza Rossi sendo entrevistada na exposição da Sociedade Orquidófila de Belo Horizonte

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